Muitas pessoas se perguntam: se minha consciência me diz que determinado ato é pecaminoso, por que ainda assim às vezes eu o cometo? Por que faço o mal, mesmo sabendo que está errado? Essa questão revela a complexidade do mistério do pecado em nossa psicologia humana.
O pecado contra a própria consciência ocorre por uma combinação de fatores: fraqueza da vontade, força do hábito, desejo desordenado, influência negativa etc. Analisemos algumas dessas razões pelas quais podemos pecar mesmo sabendo que é errado.
1. Fraqueza da vontade
Apesar de saber que algo é contra a lei de Deus, ainda assim podemos ser atraídos pela satisfação imediata que esse ato proporciona. Sofremos com a fraqueza de vontade para resistir à tentação e dominar nossos apetites desordenados.
Por isso, mesmo entendendo que determinado comportamento é um pecado, cedemos a ele, colocando o prazer momentâneo acima da fidelidade a Deus. Nossa vontade precisa ser fortalecida pela graça divina.
2. Força do hábito arraigado
Quando um padrão de pecado já se tornou um hábito profundamente enraizado, seguimos cometendo-o quase que automaticamente, sem pensar. Mesmo entendendo, em nível racional, que é errado, o hábito opera como que por inércia.
Isso ocorre porque, com a repetição, o ato pecaminoso abre trilhas nocivas em nosso cérebro, tornando mais fácil cair nele de novo. São como atalhos mentais prejudiciais que levam ao pecado por impulso, antes mesmo de raciocinarmos.
3. Influência do meio e da cultura
O ambiente e a cultura em que vivemos também exerce grande influência. Comportamentos pecaminosos podem ser tão comuns e “normalizados” em nosso meio que acabamos reproduzindo quase inconscientemente, sem avaliar se estão de acordo com nossos princípios.
Mesmo sabendo interiormente que certos atos são errados, a pressão e o exemplo negativo ao nosso redor podem levar-nos a imitá-los, como uma forma de nos adaptarmos e sentirmos parte do grupo.
4. Apego a relacionamentos nocivos
Às vezes, permanecemos em relacionamentos que nos levam a pecar repetidamente, pois os vínculos afetivos e emocionais sobrepõem-se ao que a consciência diz. Mesmo sabendo que aquele namoro ou amizade não nos faz bem espiritualmente, prosseguimos por apego humano.
Para não cortar de vez o contato, cedemos gradualmente a atos que no início chocavam nossa consciência, mas que agora já mal notamos, tal é a força do apego e do desejo de manter o relacionamento.
5. Busca de prazeres imediatos
Especialmente na era do entretenimento e consumismo, estamos propensos a querer satisfazer desejos e buscar prazeres de forma desordenada, mesmo quando são contrários aos mandamentos divinos.
Mesmo que a consciência alerte, podemos ignorá-la e satisfazer os impulsos do momento em busca de aproveitar a vida ao máximo. O imediatismo do prazer abafa a voz da razão e da fé.
6. Hábito de ignorar a própria consciência
Com o tempo, podemos desenvolver o hábito de simplesmente “abafar” os escrúpulos da consciência para fazer o que queremos. Ela passa então a ser ignorada como algo incômodo que atrapalha nossos intentos.
Disso pode resultar um progressivo entorpecimento da consciência, que deixa de reagir com força contra o pecado. Vamos pecando cada vez com menos incômodo interior, tal o hábito de abafar nossos princípios.
7. Falta de meditação e vida de fé
Quando não cultivamos uma vida sólida de oração e meditação na palavra de Deus, nossos princípios cristãos se tornam mais frágeis e falham na hora da tentação. Mesmo sabendo a verdade, cedemos por falta de uma vida interior profunda.
Quanto mais meditamos nas verdades da fé e no exemplo de Cristo, mais nossas convicções se fortalecem e mais fácil se torna resistir às seduções que nos afastam de Deus, mesmo quando vindas de dentro de nós mesmos.
8. Presunção da misericórdia divina
Às vezes, mesmo entendendo que algo é pecado, podemos cometê-lo presumindo que Deus irá perdoar depois, como fez outras vezes. Isso denota uma atitude de aproveitar-se da misericórdia divina para pecar.
Devemos evitar essa presunção, que apenas dificulta nossa conversão. Ao pecarmos, mesmo cientes, mostramos não ter verdadeiro arrependimento e desejo de agradar a Deus acima de tudo.
9. Falta de vigilância e autodisciplina
Quando nos descuidamos da atenção sobre nossos atos, pensamentos e sentimentos, abrimos brechas para agirmos mal por impulso, mesmo que depois a consciência repreenda. Deixamos de vigiar nossas inclinações desordenadas.
Quanto mais autodisciplinados, menos espaço damos ao pecado. A vigilância constante e o controle sobre nossas tendências inferiores são armas poderosas para fechar as portas contra as tentações, especialmente as vindas de dentro de nós mesmos.
10. Livre-arbítrio e responsabilidade pessoal
Por fim, embora haja todas essas influências, permanece o fato de que cedemos ao pecado por livre escolha, mesmo podendo optar por resistir, com a graça divina. Cabe a nós usar bem nossa liberdade e assumir a responsabilidade por nossas ações.
Ao reconhecermos isso com humildade, já damos o primeiro passo para combater, com a ajuda de Deus, nossas inclinações ao mal, por mais arraigadas que estejam. Com perseverança e confiança na graça, é possível vencer até mesmo velhos vícios que resistem à voz da consciência.
Perguntas frequentes
Por que faço o mal mesmo tendo plena consciência de que é pecado?
Isso ocorre por uma combinação de fatores, como fraqueza da vontade, força do hábito, busca desordenada de prazeres etc. Reconhecer essas causas pode ajudar a combatê-las.
Como fortalecer minha vontade para resistir às tentações da carne?
Através da oração perseverante, meditação na Palavra de Deus, frequência aos sacramentos, mortificações, vigilância sobre os próprios atos e pensamentos e evitando ocasiões de pecado.
O que fazer quando um pecado se tornou um hábito quase automático?
Reconhecer humildemente nossa impotência diante desse vício e recorrer incansavelmente à graça divina, além de tomar medidas práticas para dificultar esse pecado e preencher nosso tempo com coisas boas.
Como me libertar da influência negativa do meio em que vivo?
Tendo cautela ao escolher amizades e ambientes, filtrando cuidadosamente o que consumimos na mídia e reforçando nossos princípios cristãos pela oração e vida sacramental.
Quando percebo que um relacionamento me leva a pecar, o que fazer?
Se depois de tentativas sinceras de mudança a outra pessoa persiste em nos levar ao mal, talvez seja necessário interromper de vez esse relacionamento, mesmo que seja doloroso.
Como evitar o imediatismo na busca de prazeres mundanos?
Lembrando sempre que nossa vida não se resume a este mundo, cultivando um olhar de eternidade, encontrando prazeres mais elevados nas coisas de Deus e servindo aos outros com amor.
Como restaurar minha capacidade de escutar a própria consciência?
Através de examinar a consciência diariamente, lectio divina, aconselhamento espiritual, mormente na direção espiritual, e fazendo propósito firme de jamais agir contra os ditames da consciência.
Por que devo evitar “abusar” da misericórdia divina?
Porque isso denota falta de verdadeiro arrependimento e amor a Deus, além de enfraquecer nossa luta contra o pecado, pois passamos a contar que seremos perdoados de qualquer maneira.
Quais hábitos me ajudarão a vigiar melhor minhas tendências pecaminosas?
Exame de consciência diário, controle sobre os próprios pensamentos, moderação no uso dos sentidos, disciplina no trabalho, estudo e vida de piedade, além de recolhimento e silêncio em certos momentos do dia.
No fim, quem é responsável quando pecamos mesmo sabendo que é errado?
No fim, somos sempre pessoalmente responsáveis quando cedemos ao pecado, por mais condicionantes que existam, pois permanece nosso livre-arbítrio. Devemos assumir com humildade nossas escolhas errôneas.