A gula é considerada um dos sete pecados capitais pela Igreja Católica. Ela consiste no apetite desordenado por comida e bebida, levando ao consumo excessivo destes. A gula é muitas vezes associada à obesidade, má nutrição e problemas de saúde. Mas será que este pecado pode ser perdoado por Deus?
A Gula como Pecado
A gula tem sido vista como um pecado desde os primeiros tempos do Cristianismo. Os padres do deserto enfatizavam a abstinência e o jejum como remédios contra a gula. Santo Agostinho definia a gula como “o amor desordenado por comer e beber”.
São Tomás de Aquino via a gula como pecado porque revela um apego excessivo aos prazeres da carne em detrimento dos prazeres espirituais. A gula também pode levar a outros pecados como embriaguez, luxúria, preguiça, ira e inveja.
No entanto, a gula só se torna pecado mortal quando a pessoa tem plena consciência de seu excesso e persiste nele deliberadamente. Caso contrário, é considerada apenas um pecado venial.
Gula e Glutonaria
É importante distinguir gula, o apetite excessivo, de glutonaria, o ato concreto de comer ou beber em excesso. A gula é o desejo desordenado, enquanto a glutonaria é satisfazer esse desejo.
A glutonaria em pequenos excessos é pecado venial. Porém, quando há grave dano à saúde ou escândalo aos outros, pode se tornar pecado mortal.
A gula, mesmo que não satisfeita, já representa uma desordem espiritual a ser combatida. Mas somente se torna pecado mortal quando assume o controle total da vontade, levando ao vício.
Gula e Sociedade de Consumo
Na sociedade moderna de consumo, somos bombardeados por propagandas, fast food e supersize portions. Isso favorece e até glorifica a gula, tornando o autodomínio cada vez mais desafiador.
Estudos indicam que porções maiores levam as pessoas a comerem mais do que precisam. Além disso, alimentos processados com muito açúcar, gordura e sal criam vícios alimentares.
Portanto, para muitos, a gula não se resume a um pecado pessoal, mas reflete um ambiente obesogênico que precisa ser transformado com políticas públicas e regulamentação da publicidade de alimentos.
Condições para o Perdão
A Igreja ensina que todos os pecados, por piores que sejam, podem ser perdoados se houver arrependimento sincero. No caso da gula, as condições clássicas para o perdão incluem:
- Exame de consciência
- Contrição
- Confissão sacramental
- Propósito de emenda
- Penitência
Devemos refletir honestamente sobre nossos hábitos alimentares e nível de autodomínio. Sentir verdadeira dor pelos excessos cometidos e humildemente confessá-los. Ter firme intenção de melhorar, buscando a graça divina. E cumprir a penitência prescrita pelo sacerdote.
Vitórias sobre a Gula
A história da Igreja inclui inúmeros santos que obtiveram grandes vitórias sobre a gula e servem de exemplo e intercessão.
São Francisco de Assis abrasou seu corpo com jejuns e penitências severas na juventude para domar desejos desordenados. Santa Teresa D’Ávila alcançou moderação exemplar em comer e beber apesar de problemas de saúde.
São Luís IX, rei da França, desistiu de banquetes suntuosos e adotou hábitos alimentares muito modestos e frugais.
Esses e muitos outros santos provam que, com a graça de Deus, a gula pode ser vencida em qualquer estado de vida.
Gula e Saúde
Além do aspecto espiritual, a gula traz sérios riscos à saúde física e mental quando se torna compulsão alimentar, bulimia, anorexia, obesidade mórbida, diabete, doenças cardíacas e mais.
Nesses casos, além da direção espiritual, a pessoa deve buscar apoio psicológico e médico. Grupos de ajuda como Overeaters Anonymous também são recomendados para quebrar o ciclo do comer compulsivo.
A Igreja reconhece que alguns casos de gula têm raízes em distúrbios emocionais, depressão, ansiedade e outros fatores psíquicos que diminuem a imputabilidade do pecado.
Moderando a Gula
Alguns conselhos espirituais e práticos para moderar a gula incluem:
- Oração, frequentar a missa e confessar-se regularmente
- Jejum e abstinência em dias indicados pela Igreja
- Evitar ocasiões de excesso como festas regadas a álcool
- Ser grato a Deus antes e depois das refeições
- Comer devagar, saboreando calmamente
- Beber muita água para saciar a sede ao invés de refrigerantes
- Escolher alimentos saudáveis como frutas, vegetais e grãos
- Fazer exercícios para equilibrar as calorias ingeridas
- Buscar satisfação em atividades mais elevadas como as artes, estudos e atos de caridade
Esperança na Misericórdia Divina
Por pior que seja o vício da gula, nunca devemos desesperar da misericórdia e do perdão de Deus. Ele conhece nossa fragilidade e sempre dará a graça necessária ao arrependido para recomeçar.
Como disse Jesus, “Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo.” (Apocalipse 3:20). Aprendendo a saborear a presença de Cristo, os apetites mundanos perdem seu fascínio.
Perguntas Frequentes
1. Beber demais é considerado gula?
Sim, a embriaguez por bebidas alcoólicas em excesso é vista como uma manifestação da gula e pecado grave se causar perda do autocontrole ou escândalo. Beber socialmente não é pecado, mas a temperança deve ser cultivada.
2. A obesidade é sempre resultado da gula?
Não necessariamente. Algumas pessoas têm pré-disposição genética ou hormonal para a obesidade. Outras desenvolvem o problema por efeito colateral de medicamentos ou condições médicas. A obesidade deve ser avaliada caso a caso.
3. Comer muito em datas comemorativas é pecado?
Pequenos excessos ocasionais não são graves, desde que não causem prejuízo à saúde. Porém, é preciso moderação para não criar maus hábitos. O ideal é equilibrar os excessos com jejum e oração em outras ocasiões.
4. Ter prazer ao comer bem é errado?
Não. O prazer na boa comida dentro da moderação é perfeitamente lícito. O problema é quando esse prazer se torna um fim em si mesmo, sobrepujando valores mais elevados, ou quando leva ao excesso prejudicial.
5. Crianças muito gulosas devem se confessar?
Crianças pré-adolescentes ainda não tem discernimento pleno para pecar mortalmente por gula. Mas devem ser educadas pelos pais quanto a bons hábitos alimentares. A confissão pode ajudar neste processo educativo.
6. A gula pode afetar o estado de graça da alma?
Sim, tal como outros pecados mortais, a gula deliberada e grave compromete nosso estado de graça, nos afastando de Deus. Por isso a importância da confissão para recuperar a comunhão com Deus quando cairmos neste pecado.
7. Que santo é padroeiro contra a gula?
São Luís Gonzaga é o santo padroeiro contra a gula. Desde criança praticava jejuns e grande moderação na comida e bebida. Distribuía às escondidas sua ração aos pobres e doentes. Sua mortificação o levou à santidade.
8. Qual deve ser a atitude de um cristão frente à gula alheia?
Devemos ter atitude de compreensão e compaixão, reconhecendo nossas próprias fraquezas. O julgamento e a censura não ajudam. Podemos dar bom exemplo e respeitosamente aconselhar buscar ajuda espiritual e médica quando apropriado.
9. A bulimia ou anorexia são pecado?
São consideradas distúrbios psicológicos e físicos que diminuem a responsabilidade pessoal. Quem sofre dessas doenças precisa de acompanhamento especializado, além de direção espiritual para superar essa forma de gula.
10. Ayurveda ou jejum intermitente ajudam contra a gula?
Métodos que promovem mais consciência ao comer, como comer sem distrações e mastigar bem, podem ajudar. Jejum intermitente com orientação adequada também é uma boa prática. Já dietas da moda devem ser vistas com cautela.