A preguiça, definida como a negligência nos deveres para com Deus e o próximo por aversão ao esforço, é considerada um dos sete pecados capitais pela tradição católica. Mas por que essa tendência à inércia e falta de zelo é vista como pecaminosa pela Igreja?
Concepção Cristã do Trabalho
Diferente de outras religiões orientais que enfatizam apenas a contemplação, o Cristianismo valoriza também o trabalho e o esforço como parte do plano de Deus para o ser humano.
Jesus trabalhou como carpinteiro antes de iniciar seu ministério. Os apóstolos eram em sua maioria trabalhadores braçais antes de seu chamado. Portanto, a ociosidade deliberada vai contra o espírito laborioso do Evangelho.
Preguiça como Falta de Amor
Mais do que simplesmente não trabalhar, a preguiça é entendida pela Igreja como uma falta de amor e zelo pelo cumprimento dos próprios deveres, tanto os mundanos quanto os religiosos.
A pessoa preguiçosa deixa de cumprir suas obrigações por não se importar o suficiente com o bem alheio e com a vontade de Deus. Esse descaso é visto como uma ofensa grave contra o amor devido ao Criador e às suas criaturas.
Inclinando ao Mal
“A ociosidade é a mãe de todos os vícios”, diz o antigo provérbio. A Igreja reconhece que a preguiça abre as portas para diversos outros pecados, ao negar à pessoa ocupações legítimas e deixá-la entregue à indolência.
Sem as amarras do trabalho e do dever, a mente vagante facilmente se inclina a pensamentos impuros, palavras ociosas, consumo desenfreado, curiosidade malsã e todo tipo de tentações.
Falta de Caridade e Zelo Missionário
Do ponto de vista social, a preguiça também é condenada por ir contra o ideal cristão de caridade e entrega ao próximo. Ficar ocioso em vez de trabalhar para sustentar a família ou ajudar os necessitados é compreendido como grave falta de amor.
Da mesma forma, negligenciar a missão evangelizadora por comodismo, não compartilhando os dons recebidos, é pecado contra o zelo missionário ao qual todo cristão é chamado.
Desperdício dos Talentos
Na parábola dos talentos (Mateus 25:14-30), Jesus elogia os servos que fazem frutificar os dons recebidos e reprova o que simplesmente enterra seu talento. A Igreja vê nessa parábola um convite ao cultivo diligente dos próprios dons em favor do Reino.
Deixar de desenvolver os talentos e habilidades recebidas de Deus por acomodação ou desinteresse egoísta é, portanto, uma ofensa à vontade divina e um desvirtuamento de Seus planos. Todo cristão deve colocar seus dons a serviço.
Descanso Virtuoso
O necessário descanso e as diversões lícitas e moderadas não são vistos pela Igreja como pecado, pelo contrário. Porém o repouso deve ser orientado à renovação das forças para retomar o trabalho, e não se tornar um fim em si mesmo.
O ideal é harmonizar trabalho, descanso e oração, imitando o próprio ritmo de Deus, que trabalhou por seis dias na criação e descansou ao sétimo, sem jamais cessar de sustentar Suas criaturas.
Contra o Hedonismo
Em uma cultura hedonista que supervaloriza o prazer e o bem-estar, a ética católica se contrapõe enfatizando a necessidade do esforço, abnegação e sacrifício como parte da vocação cristã nesse mundo.
Isso porque a salvação da alma é o bem mais precioso, que exige empenho e luta constantes. A comodidade e a inércia podem custar o Céu, se levarem à negligência dos deveres para com Deus e o próximo.
Perguntas Frequentes
1. Descansar é pecado para a Igreja Católica?
Não, o necessário e moderado descanso do corpo e da mente não é pecado. O ideal é equilibrar trabalho, descanso e oração. O pecado está em descansar por aversão às obrigações e ao esforço virtuoso.
2. Ver televisão ou jogar videogame é pecado de preguiça?
Tudo depende da medida. Feito com moderação e equilíbrio, não constitui pecado. O problema é quando essas atividades passam a ocupar todo nosso tempo livre, afastando-nos de deveres mais importantes.
3. E se eu gostar mais de contemplação do que de ação?
Há diferentes tipos de temperamento e vocação. Porém, salvo raras exceções, todo cristão é chamado a equilibrar contemplação e ação, ou seja, uma vida de oração ativa, que inclui o trabalho e o serviço.
4. Por que os monges dedicam tanto tempo à oração?
Por terem uma vocação especial de dedicação exclusiva a Deus, renunciando inclusive ao trabalho secular. Mas mesmo nos mosteiros há distribuição de tarefas necessárias à subsistência da comunidade. Portanto os monges também trabalham.
5. Preguiça pode levar uma pessoa à condenação?
Sim, pois como pecado capital, a preguiça indulgenciada abre as portas para muitos outros pecados graves. Além disso, a negligência de nossos deveres religiosos por comodismo coloca em risco nossa salvação eterna.
6. Trabalhar só por dinheiro é errado?
Não necessariamente, desde que haja retidão de intenção. Porém, é melhor quando o trabalho é motivado também por amor a Deus, ao próximo e ao bem comum. O ideal é ver o trabalho como cooperação na obra do Criador.
7. O que a Bíblia diz sobre a preguiça?
“Vá à formiga, ó preguiçoso, veja o que ela faz e medite. Ela não tem chefe, nem supervisor, nem regente. (…) Quanto tempo ainda ficarás deitado, preguiçoso?” (Provérbios 6:6-9)
8. Existe algum santo padroeiro contra a preguiça?
São José, por sua vida laboriosa dedicada a prover e proteger a Sagrada Família, é considerado um exemplo e intercessor contra a preguiça. Sua festa no dia 1o de maio foi escolhida como Dia do Trabalhador.
9. A depressão às vezes não deixa a pessoa trabalhar. Isso é preguiça?
Não. A depressão é uma doença que diminui a capacidade da pessoa. Nesses casos, é preciso tratar a causa com acompanhamento médico, psicológico e espiritual apropriados, sem julgar a pessoa.
10. Ver televisão o dia todo aos domingos é pecado grave?
Depende. Feito ocasionalmente, em família, como lazer, não é pecado, desde que não prejudique a participação na missa e vida espiritual. O problema é quando se torna um vício dominante, descuidando de outros deveres importantes.