A Bíblia e a tradição cristã estabelecem certas restrições alimentares para os fiéis. Embora o cristianismo tenha menos proibições do que o judaísmo, existem alguns alimentos e práticas que são desencorajados ou até mesmo completamente proibidos, dependendo da denominação.
Alimentos proibidos no Antigo Testamento
No Antigo Testamento, Deus deu aos judeus muitas leis alimentares, como a proibição de comer carne de porco, mariscos, aves de rapina e outros alimentos considerados impuros (Lv 11). No entanto, a maioria dos cristãos acredita que essas leis alimentares judaicas foram abolidas no Novo Testamento.
Jesus declarou que nenhum alimento é impuro (Mc 7:19). Em visões, Deus instruiu São Pedro a comer alimentos anteriormente proibidos pelas leis judaicas (At 10). Por isso, a maior parte do cristianismo não se sente obrigada a seguir as restrições alimentares mosaicas.
Restrições de jejum e abstinência
Durante séculos, a Igreja Católica proibiu o consumo de carne vermelha em sextas-feiras, dias de jejum e na Quaresma. O peixe era permitido. Atualmente, a abstinência de carne apenas é requerida na Sexta-Feira Santa e em todas as sextas-feiras da Quaresma.
O jejum, que significa uma refeição completa e duas refeições mais leves, é obrigatório na Quarta-Feira de Cinzas e na Sexta-Feira Santa para católicos saudáveis entre 18 e 59 anos. As regras de jejum e abstinência visam promover o espírito de penitência e mortificação.
Proibição aos alimentos oferecidos aos ídolos
Os primeiros cristãos, vindos do contexto judaico, eram muito avessos a comer carnes rituais oferecidas aos deuses pagãos. O Concílio Apostólico proibiu o consumo de carnes imoladas aos ídolos para evitar o escândalo (At 15:29).
Mesmo que o alimento em si não contivesse nada de errado, o fato de estar associado ao culto pagão o tornava impróprio para o consumo dos cristãos. Essa restrição buscava separar os cristãos das práticas idólatras comuns na cultura greco-romana.
A proibição da carne de animais estrangulados ou mortos por animais
O Concílio Apostólico determinou também a proibição do consumo de sangue e de animais mortos por estrangulamento ou ataque de outros animais (At 15:20). O sangue era considerado o veículo da vida e, portanto, deveria ser derramado antes do consumo das carnes.
Essa lei visava distanciar os cristãos gentios das práticas pagãs relacionadas ao sangue e inculcar um maior respeito pela vida representada pelo sangue do animal sacrificado.
Alimentos sacrificados a demônios
Mais adiante no Novo Testamento, a questão dos alimentos sacrificados a ídolos pagãos ainda gerava debates entre os cristãos. Paulo condenou a participação em banquetes ritualísticos em templos pagãos, pois os alimentos eram, na verdade, oferecidos a demônios (1Cor 10:20-21).
Porém, a carne vendida no mercado, ainda que tivesse origem em animais sacrificados em cultos pagãos, não estava contaminada em si. Cada cristão deveria decidir por si mesmo se comê-la poderia constituir uma forma de idolatria (1Cor 10:25-27).
Razões para as restrições alimentares cristãs
As razões para as proibições alimentares no cristianismo incluem:
- Manter a identidade dos cristãos distinta do paganismo
- Evitar escândalo e confusão entre cristãos e pagãos
- Promover o domínio do espírito sobre a carne
- Incentivar atitudes de penitência, sacrifício e respeito à vida
- Afastar os cristãos de práticas imorais associadas a banquetes pagãos
- Obedecer aos ensinamentos apostólicos e tradição da Igreja
Embora poucas, essas restrições buscavam proteger a pureza da fé e devoção dos primeiros cristãos em um ambiente predominantemente pagão.
Divergências entre as denominações cristãs
As regras de abstinência e jejum são mais rigorosamente observadas por católicos e ortodoxos. Já os protestantes, em geral, não se sentem obrigados a abstinências alimentares, com exceção dos adventistas e alguns outros grupos.
Alguns protestantes evitam bebidas alcoólicas por motivos morais. Testemunhas de Jeová e pentecostais condenam o consumo de sangue. Ortodoxos orientais seguem jejuns muito rigorosos. Então, há variações entre denominações sobre o tema.
Liberdade cristã e alimentos
Apesar de algumas restrições, o cristianismo não impõe um código rígido de leis alimentares como os judeus. Esta liberdade reflete o ensinamento de Jesus: “Não é o que entra pela boca que faz impuro o homem; mas o que sai da boca, isso é o que faz impuro o homem” (Mt 15:11).
Paulo também ensinou que nenhum alimento é impuro em si e que os cristãos podem comer de tudo com ação de graças, contanto que isso não cause dano espiritual a outros (Rm 14:14; 1Cor 10:25). O reino de Deus não consiste em comida e bebida (Rm 14:17).
Portanto, o cristianismo enfatiza mais a pureza do coração do que restrições alimentares externas. A maioria dos alimentos é permitida, dentro dos princípios de temperança, caridade e gratidão.
Perguntas frequentes
Os cristãos podem comer carne de porco?
Sim, os cristãos consideram toda carne pura para consumo desde que seja abatida corretamente. A proibição bíblica da carne de porco era uma lei ceremonial judaica que não se aplica mais depois de Cristo.
É pecado comer carne na Sexta-Feira Santa?
Para católicos, é pecado mortal quebrar o jejum e abstinência de carne na Sexta-Feira Santa sem uma razão grave. Para protestantes, não há restrições obrigatórias nesse dia.
O vinho das missas católicas se torna realmente sangue?
Sim. Na doutrina católica da transubstanciação, o vinho se torna verdadeiramente o sangue de Cristo após a consagração, enquanto mantém a aparência de vinho. Por isso, os católicos consideram pecado mortal não jejuar antes da comunhão.
Testemunhas de Jeová podem fazer transfusões de sangue?
Não. Testemunhas de Jeová interpretam Atos 15:28-29 como uma proibição do consumo de sangue, incluindo transfusões. Muitos perdem a vida por recusarem transfusões por motivos religiosos.
Quais igrejas proíbem o consumo de álcool?
Algumas denominações cristãs que proíbem totalmente bebidas alcoólicas são: Adventistas do Sétimo Dia, Pentecostais, Batistas Primitivos, Metodistas Wesleyanos e Testemunhas de Jeová, entre outras.
O vegetarianismo é obrigatório para os cristãos?
Não. Embora o vegetarianismo por motivos éticos ou ecológicos seja elogiável para alguns cristãos, nenhuma igreja o impõe como regra. A Bíblia permite o consumo de carne dentro de certos limites.
É errado participar de um banquete Hindú como convidado?
Não, desde que isso não constitua um ato de adoração a outra religião. Não consumir alimentos oferecidos aos ídolos é uma recomendação, não uma lei absoluta, principalmente em contextos sociais.
Por que algumas igrejas desencorajam o consumo de café?
Algumas igrejas associam o café a vícios mundanos e falta de temperança. Testemunhas de Jeová, Mórmons e Adventistas do Sétimo Dia restringem o café e o chá por motivos de saúde e disciplina, não por motivos bíblicos.
Católicos ainda respeitam a proibição de carne às sextas-feiras?
A regra de abstinência às sextas-feiras foi relaxada, mas ainda se aplica na Quaresma. Muitos católicos continuam a tradição de não comer carne às sextas-feiras por devoção, mas a Igreja não obriga fora da Quaresma.
As restrições alimentares dos cristãos se aplicam também a muçulmanos e judeus?
Não. As proibições alimentares cristãs, voltadas para preservar a identidade cristã, se aplicam apenas aos próprios cristãos. Respeitamos as tradições judaicas e islâmicas, mas elas não são obrigatórias para nós.