Uma das passagens mais conhecidas do evangelho é quando Pedro pergunta a Jesus quantas vezes deve perdoar alguém que peca contra ele. Jesus responde que não apenas sete vezes, mas 77 vezes (Mateus 18:21-22). Essa resposta surpreendente destaca o quão longe deve ir o perdão cristão.
A parábola dos 77 perdões, como ficou conhecida, transmite uma mensagem profunda sobre misericórdia e reconciliação. Vamos analisar o contexto bíblico e o significado dessa narrativa tão rica em ensinamentos.
O contexto da parábola
A passagem se insere em um discurso mais amplo de Jesus sobre humildade, escândalo e perdão fraterno. Logo antes, Cristo havia dito que deveríamos perdoar aqueles que pecam contra nós (Mateus 18:15).
Pedro então faz a pergunta: “Senhor, quantas vezes devo perdoar meu irmão, se ele pecar contra mim? Até sete vezes?”. A lei judaica pregava o perdão, mas estabelecia limites. Pedro sugere um número generoso, sete vezes.
Porém, a resposta de Jesus vai além de qualquer expectativa: “Não te digo que até sete, mas até setenta vezes sete”. Ou seja, 77 vezes. Um número simbólico que significa “sem limites”.
O significado do número 77
O número 77 era usado pelos judeus para se referir a algo infinito, completo ou perfeito. Em Gênesis 4:24, por exemplo, Caim diz que será vingado “77 vezes”. Ou seja, plenamente.
Sete é considerado o número perfeito na Bíblia. Multiplicado por si mesmo (sete vezes sete), representa perfeição elevada ao extremo. Portanto, perdoar 77 vezes significa perdoar sempre, por completo, sem medir esforços.
A misericórdia divina como modelo
Com esse número hiperbólico, Jesus quer nos ensinar a imitar a misericórdia de Deus. Assim como o Senhor nos perdoa infinitamente, devemos perdoar uns aos outros sem limites também.
Deus perdoa sempre aqueles que se arrependem sinceramente, independente de quantas vezes tenham pecado. Da mesma forma, nosso perdão reciproco deve ser ilimitado.
Por mais que nos magoem, precisamos estar dispostos a perdoar e esquecer as ofensas. Esse é o modelo de perdão que Cristo veio inaugurar no mundo.
O vínculo entre perdão e humildade
Logo antes da parábola, Jesus havia dito que precisávamos nos tornar como crianças para entrar no Reino dos Céus (Mateus 18:3). Ou seja, com humildade e simplicidade de coração.
Perdoar incondicionalmente exige muita humildade, reconhecendo que também necessitamos do perdão alheio. Precisamos remover o orgulho e ressentimento para abraçar o ofensor com compaixão.
Portanto, a parábola relaciona intimamente o perdão fraterno com a virtude da humildade. Quem perdoa 77 vezes compreende sua própria fragilidade e necessidade de misericórdia.
A primazia da misericórdia na lei nova
O número 77 times contrasta propositalmente com a lei antiga do perdão limitado. Jesus veio inaugurar uma nova lei, a lei do amor, que supera todas as outras leis.
Essa nova lei se baseia na misericórdia e reconciliação. O amor e o perdão tornam-se o maior mandamento do Cristianismo, capaz de relativizar todos os demais preceitos.
Portanto, a parábola dos 77 perdões marca a transição da rigidez da lei judaica para a primazia da misericórdia na lei evangélica estabelecida por Cristo.
A importância do perdão na comunidade
No contexto do discurso de Jesus, o perdão 77 vezes se aplica especialmente às relações dentro da Igreja primitiva. Para construir comunidades unidas em seu nome, o perdão mútuo irrestrito era essencial.
Por isso, Jesus frisa tanto a necessidade de perdoar os irmãos. Guardar ressentimentos destrói a comunhão eclesial. Devemos estar sempre prontos a perdoar e ser perdoados para viver em harmonia.
O vínculo entre perdão e salvação
Logo após a parábola, Jesus conta a história do servo que, apesar de perdoado pelo rei, não perdoou seu companheiro. O rei então o condena impiedosamente.
Essa passagem mostra que só podemos esperar o perdão de Deus se perdoamos uns aos outros. O próprio Jesus ressalta isso na oração do Pai Nosso: “perdoai as nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”.
Portanto, a parábola nos lembra que somos todos devedores diante de Deus e dependentes de sua misericórdia. Devemos permitir que o perdão divino transborde de nós para os outros.
A aplicação ao matrimônio cristão
Dentro do ideal cristão do casamento, a parábola dos 77 perdões tem uma aplicação muito direta. Como o vínculo matrimonial é indissolúvel, os cônjuges precisam estar dispostos a um perdão mútuo sem limites.
Não à toa muitos padres aconselham os noivos a meditar sobre essa passagem bíblica. Os esposos são chamados a refletir no matrimônio o perdão incondicional de Cristo para com a Igreja, sua noiva.
Portanto, seja no casamento ou em qualquer outro relacionamento, devemos sempre “perdoar 77 vezes”, na prática amando sem medidas, como Jesus nos amou.
Perguntas Frequentes
1. Onde se encontra a passagem dos 77 perdões na Bíblia?
A passagem se encontra no evangelho de Mateus, capítulo 18, versículos 21-22. É parte do discurso de Jesus sobre humildade e reconciliação fraterna.
2. Quem faz a pergunta a Jesus sobre quantas vezes perdoar?
Foi o apóstolo Pedro quem perguntou: “Senhor, quantas vezes devo perdoar meu irmão, se ele pecar contra mim? Até sete vezes?”.
3. Qual foi a resposta exata de Jesus sobre quantas vezes perdoar?
Jesus respondeu: “Não te digo que até sete, mas até setenta vezes sete” (Mateus 18:22). Ou seja, 77 vezes.
4. O que o número 77 simboliza na Bíblia?
Na cultura judaica da época, o número 77 era usado para significar algo infinito ou perfeito. Representa, portanto, a completude e totalidade do perdão.
5. Perdoar 77 vezes significa literalmente perdoar exatamente 77 ofensas?
Não, o número 77 é claramente simbólico e hiperbólico na passagem. Representa que devemos sempre perdoar, sem colocar um limite de vezes ou guardar ressentimento.
6. Qual a relação entre o perdão 77 vezes e a lei antiga judaica?
Jesus contrasta o perdão 77 vezes com a lei judaica antiga, que pregava um perdão limitado. Sua “nova lei” do amor supera essas restrições.
7. Por que Jesus enfatiza tanto o perdão fraterno nessa passagem?
Porque o perdão irrestrito era essencial para manter a unidade nas comunidades cristãs primitivas. Jesus sabia que o ressentimento destrói qualquer comunhão.
8. O que acontece se não perdoamos aos outros?
A parábola do servo implacável ensina que, se não perdoamos, também não seremos perdoados por Deus. O perdão que concedemos está diretamente ligado ao que receberemos.
9. Como a parábola se aplica ao matrimônio cristão?
Os cônjuges cristãos devem espelhar o perdão incondicional de Cristo um pelo outro. Por isso, a passagem é muito meditada por noivos e casais.
10. De que outra forma podemos praticar o perdão 77 vezes hoje?
Perdoando sem limites em todos os nossos relacionamentos: família, amigos, colegas. Reconciliando-nos com quem nos ofendeu. Amando sem medidas, como fomos amados por Deus.