O papa Francisco é conhecido por sua postura aberta e conciliadora em relação a diversos temas polêmicos, como a homossexualidade, o aborto, o divórcio e a pobreza. Em várias ocasiões, ele pediu desculpas em nome da Igreja Católica por erros cometidos no passado ou no presente, reconhecendo a necessidade de mudança e de diálogo.
Neste artigo, vamos relembrar alguns dos pedidos de desculpas mais marcantes do pontífice, que mostram sua sensibilidade e sua disposição para enfrentar os desafios do mundo atual.
Desculpas pelos abusos sexuais cometidos por membros da Igreja
Um dos temas mais delicados e dolorosos que o papa Francisco teve que enfrentar foi o dos abusos sexuais cometidos por membros do clero contra crianças e adolescentes. Em diversas ocasiões, ele manifestou sua vergonha, sua dor e sua indignação por esses crimes, que considerou uma “ferida aberta” na Igreja.
Em 2014, ele se encontrou com seis vítimas de abusos na Casa Santa Marta, no Vaticano, e lhes pediu perdão pessoalmente. Em 2018, ele escreveu uma carta ao Povo de Deus, na qual reconheceu o fracasso da Igreja em proteger os menores e afirmou que “nenhum esforço deve ser poupado para criar uma cultura capaz de evitar que essas situações não só não aconteçam, mas que não encontrem espaços para serem encobertas e perpetuadas”.
Em 2019, ele convocou uma cúpula no Vaticano com os presidentes das conferências episcopais de todo o mundo para discutir medidas concretas para prevenir e combater os abusos na Igreja. Entre as propostas apresentadas, estavam a criação de um protocolo para lidar com as denúncias, a formação de comissões para acompanhar as vítimas e a revisão do código penal canônico.
Desculpas pelo genocídio dos povos indígenas na América
Outro pedido de desculpas histórico do papa Francisco foi feito em 2015, durante sua visita à Bolívia. Em um discurso aos movimentos populares, ele reconheceu que a Igreja foi cúmplice do genocídio dos povos indígenas na América durante a colonização europeia.
“Quero dizer-lhes, quero ser muito claro, como foi São João Paulo II: peço humildemente perdão, não só pelas ofensas da própria Igreja, mas pelos crimes contra os povos nativos durante a chamada conquista da América”, disse ele.
Ele também criticou o sistema econômico que explora e exclui os pobres e os marginalizados, e defendeu o direito dos povos originários à terra, à cultura e à participação política.
Desculpas pela discriminação das mulheres na Igreja
O papa Francisco também se desculpou pela discriminação das mulheres na Igreja, admitindo que elas ainda sofrem preconceito e exclusão em muitos âmbitos eclesiais. Em 2016, ele publicou uma exortação apostólica chamada “A Alegria do Amor”, na qual reconheceu que “há muito a fazer para tornar efetiva a plena participação das mulheres na vida eclesial”.
Em 2019, ele pediu perdão às mulheres religiosas que foram vítimas de abusos por parte de padres ou bispos. Ele também afirmou que era preciso ampliar os espaços de liderança e decisão das mulheres na Igreja, sem reduzi-las a funções subalternas ou servis.
Em 2020, ele nomeou pela primeira vez uma mulher como subsecretária do Sínodo dos Bispos, dando-lhe direito a voto nas assembleias sinodais. Ele também criou uma comissão para estudar a possibilidade de ordenar mulheres como diaconisas permanentes.
Desculpas pelos erros cometidos na gestão da crise no Chile
Em 2018, o papa Francisco enfrentou uma grave crise no Chile, provocada pela revelação de casos de abusos sexuais cometidos por membros da Igreja e pelo encobrimento dos mesmos por parte da hierarquia eclesiástica. O pontífice foi duramente criticado por sua atitude inicial de defesa do bispo Juan Barros, acusado de ter sido cúmplice do padre Fernando Karadima, condenado pelo Vaticano por abusar de menores.
Após receber um relatório de 2.300 páginas elaborado pelo arcebispo maltês Charles Scicluna, que investigou as denúncias, o papa Francisco mudou radicalmente sua postura e pediu perdão às vítimas, aos fiéis e ao povo chileno pelos seus erros de avaliação e percepção.
Ele também convocou todos os bispos chilenos ao Vaticano e lhes pediu que renunciassem coletivamente aos seus cargos. Em seguida, ele aceitou a renúncia de sete deles, incluindo a de Barros, e nomeou novos pastores para as dioceses vacantes.
Desculpas pela ofensa aos muçulmanos
Em 2006, o papa Francisco, ainda como cardeal Jorge Mario Bergoglio, pediu desculpas aos muçulmanos pela ofensa causada pelo papa Bento XVI em um discurso na Universidade de Regensburg, na Alemanha. Na ocasião, Bento XVI citou uma frase do imperador bizantino Manuel II Paleólogo, que dizia que Maomé havia trazido ao mundo “apenas coisas más e desumanas”.
A citação provocou uma forte reação no mundo islâmico, que considerou o discurso uma agressão à sua fé. Bergoglio, então arcebispo de Buenos Aires e presidente da Conferência Episcopal Argentina, emitiu uma nota na qual expressou sua “dor e consternação” pelo mal-entendido gerado pelas palavras do papa.
Ele também afirmou que o diálogo inter-religioso era uma prioridade para a Igreja e que os católicos respeitavam e amavam os muçulmanos como irmãos.
Perguntas frequentes
O que é um pedido de desculpas?
Um pedido de desculpas é um ato de reconhecer um erro, uma ofensa ou um dano causado a outra pessoa ou a um grupo, e de manifestar arrependimento, remorso ou contrição. Um pedido de desculpas também implica em assumir a responsabilidade pelo ocorrido e em expressar a vontade de reparar o mal feito ou de evitar que se repita no futuro.
Por que o papa pede desculpas?
O papa pede desculpas porque é o líder espiritual da Igreja Católica, que é formada por mais de 1,3 bilhão de fiéis em todo o mundo, e que tem uma história de mais de dois mil anos. Ao longo dessa história, a Igreja cometeu erros, pecados e crimes contra Deus e contra os homens, que precisam ser reconhecidos, confessados e reparados.
O papa pede desculpas também porque é um homem como qualquer outro, sujeito a falhas, limitações e equívocos. Ele não é infalível em tudo o que diz ou faz, mas apenas quando define uma doutrina de fé ou moral para toda a Igreja. Ele é capaz de reconhecer seus erros e de pedir perdão a Deus e aos homens.
O papa pede desculpas ainda porque é um cristão que segue o exemplo de Jesus Cristo, que ensinou a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Ele sabe que o amor exige humildade, misericórdia e reconciliação. Ele sabe que pedir desculpas é um gesto de respeito, de justiça e de paz.
Como o papa pede desculpas?
O papa pede desculpas de diferentes formas, dependendo da gravidade do assunto, do contexto histórico e cultural, e do destinatário do pedido. Ele pode pedir desculpas em um discurso público, em uma carta pessoal ou coletiva, em uma audiência privada ou em uma celebração litúrgica.
O papa pede desculpas usando palavras claras, sinceras e humildes. Ele não se justifica nem minimiza os fatos. Ele reconhece os danos causados e as consequências negativas para as v